O presidente americano Barack Obama disse que "pisou na bola" ao comentar o modo como lidou com a controvérsia que levou dois políticos a declinar postos em seu governo.
Em apenas um dia, Obama teve de abrir mão de dois nomes indicados para o alto escalão da nova administração americana pelo mesmo motivo, o não pagamento de impostos.
Nesta terça-feira, o ex-senador Tom Daschle desistiu de ser o novo secretário de Saúde americano, dias após ter vindo à tona o fato de que ele deixara de pagar US$ 140 mil em impostos atrasados e juros.
Horas antes da desistência de Daschle, Nancy Killefer, que iria ser a supervisora do setor da Presidência responsável pela fiscalização de gastos públicos, também abriu mão do posto devido a impostos que deixou de quitar.
Em uma série de entrevistas à TV, Obama disse que sentia pelo modo com tinha lidado com o caso.
"Tenho que assumir meu erro já que, em última instância, é importante para esta administração enviar uma mensagem de que não há dois conjuntos de regras", disse ele à NBC News.
"Você sabe, um para as pessoas proeminentes e outro para as pessoas comuns, que têm que pagar seus impostos."
"Acho que pisei na bola", disse Obama à CNN, "e assumo a responsabilidade por isso. Agora vamos consertar o problema e garantir que ele não ocorra de novo".
Poucos dias atrás foi a vez de Timothy Geithner, que acabou tendo seu nome confirmado como secretário de Tesouro mesmo após uma constrangedora sabatina no Senado na qual ele teve de pedir desculpas por ter deixado uma dívida de US$ 34 mil com o fisco americano.
Na ocasião, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, afirmou que Geithner era um nome essencial para a administração americana, daí ser aceitável perdoar o suposto deslize do titular do Tesouro.
Mas tais episódios constituíram, sem dúvida, um constrangimento para Barack Obama que, desde o momento de sua posse, falou em oferecer aos americanos uma ‘‘nova era de responsabilidade''.
Questionamentos
Obama também foi obrigado a voltar atrás nas medidas que ele próprio definiu como as mais duras restrições à atuação de lobistas na administração de um presidente americano, quando indicou como vice-secretário de Defesa William Lynn, um ex-lobista ligado justamente ao setor de defesa.
A justificativa da Casa Branca para a exceção oferecida a Lynn foi similar à que foi dada para manter Geithner à frente do Tesouro, a de que ele era uma peça essencial no tabuleiro da nova administração.
Em princípio, parecia que com Tom Daschle a história iria se repetir. Mas a imprensa americana começou a questionar as práticas que começaram a ser adotadas pelo governo Obama.
‘‘Nos primeiros dias de sua administração, a equipe Obama está sendo criticada por blogueiros da esquerda à direita, satirizada por humoristas televisivos e questionada por repórteres sobre se ele estaria realmente mudando a maneira pela qual Washington funciona ou apenas mudando o partido que a faz funcionar'', afirmou o jornal New York Times em reportagem de capa na edição desta terça-feira.
Na mesma edição, em editorial, o diário pediu ainda a saída de Daschle, não apenas pelo não pagamento de impostos, mas pelas ligações do ex-senador com grandes nomes da indústria de saúde, que o ajudaram a acumular milhões de dólares com trabalhos de consultoria.
Além das duas indicações mal sucedidas, ao menos nesta terça-feira Obama conseguiu indicar para o seu gabinete um político sobre o qual - pelo menos por enquanto - não pairam dúvidas de natureza ética.
Trata-se do senador republicano Judd Gregg, indicado para ser o novo secretário de Comércio.
Mas Gregg, conhecido pela lisura administrativa no seu período de Senado, só chegou ao posto devido a outro contratempo, a desistência do governador do Novo México, Bill Richardson, que abdicou da pasta depois do surgimento de detalhes sobre uma investigação sobre supostas irregularidades em negócios do governo do Novo México com uma empresa.
Padrão ético
Chris Arterton, reitor da Faculdade de Gerenciamento Político da George Washingotn University, em Washington, disse à BBC Brasil que as denúncias acabaram "retardando a administração de alguma forma".
O analista acredita que os problemas enfrentados pelo líder americano foram, em parte, gerados por ele mesmo.
"Ao criar um senso de ética tão elevado em sua administração, há pessoas que não conseguirão alcançar esse patamar e alguns terão que ficar de fora", disse.
De acordo com Arterton, o próprio Obama havia dito durante a campanha o quanto era difícil trazer mudanças para Washington devido à quantidade de diferentes interesses e grupos de lobistas que estão ligados ao processo político.
"Agora, a retórica dele de reformas e mudanças se deparou com a realidade de Washington", afirma.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090204_obama_erro_bg_ba_tc2.shtml
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