Pesquisa personalizada

terça-feira, 15 de junho de 2010

Não temas, filho! – Apocalipse 2.9-10

“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico)
e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são,
sendo, antes, sinagoga de Satanás.
Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias.
Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse 2.9-10.
Contexto: João, apóstolo por Jesus, está preso na Ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Cristo (1); recebe uma visão do próprio Jesus e instrução para escrever o que viu e mandar sete cartas a sete igrejas da época (2). O texto de hoje destina-se a igreja de Esmirna, distante cerca de 50Km de Éfeso. Esmirna era um perfume aromático feito com mirra, usada para embalsamar mortos. A cidade era assolada pela morte e sofrimento tendo até no nome uma conexão com esse fato (3). Esmirna era também conhecida como o “orgulho da Ásia”, era importante ponto portuário e tinha grande rivalidade com Éfeso (4). Não há um consenso sobre quem foi o fundador de sua igreja, mas as antigas tradições atribuem a Paulo, já que este permaneceu dois anos em Éfeso, tempo em “que todos os habitantes da Ásia” ouviram a palavra do Senhor (5). Os estudiosos também se dividem se a profecia era exclusiva para a comunidade de Esmirna, se pretérita ou futura. O que é certo é que a mensagem que fora oportuna as igrejas da época são aplicáveis a Igreja em todos os tempos (6). Seu “contexto histórico [...] não pode limitar a sua importância” (7). Vemos, “nessas igrejas imagens das nossas igrejas de hoje” (8). Se compreendermos a relação de Cristo com Sua Igreja na época, avisando-a e consolando-a, podemos nos encorajar a não temer perseguições, pobreza, calúnias, prisões e morte, nos dias de hoje.
Por que não temer? 1 Porque Jesus está ao seu lado; 2 porque Jesus conhece o seu sofrimento ; 3 porque Ele promete compartilhar Sua vitória, conosco.
Aplicação: Jesus está no meio de Sua Igreja. João O viu em meio aos candeeiros, que representam as igrejas destinatárias das cartas (9). Entre sete candeeiros, um representando cada comunidade, sendo que Jesus está em meio a todas elas, simbolizado estar entre elas. Ou seja, somente isso já deveria nos encher de paz. Não disse Ele: “Eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” ? (10). Todos os dias incluem tanto o dia bom quanto o dia mau. No dia bom, Sua companhia nos auxilia a entregar-Lhe a glória e o louvor pelo bom momento, assim como nos sustenta, dando-nos limite. No dia mau, Ele nos sustenta, guarda e limita o mal, nos auxiliando a igualmente entregar-Lhe a glória pelos livramentos e o louvor em todo o tempo. Temos certas dificuldades para estas coisas. Na abundância, olvidamos nosso Deus. Na adversidade, O buscamos, mas, Ele parece longe, ou nós Lhe culpamos pelos problemas, ou ainda pior, esquecemos dEle, entrando em desespero. Lembro daquele famoso poema, que virou música, chamado Pegadas na Areia. Nos piores momentos da vida, o poeta antes acompanhado por Jesus, via apenas pegadas de uma pessoa. Quando questiona o Senhor onde Ele estava nestes momentos difíceis Jesus diz: Levando você em meu colo.
O Senhor conhece nosso sofrimento. Aliás, há uma corrente de pensamento estranho, que afirma que o cristão está isento de problemas. Mentira. Não entendo o que estes fazem com a declaração de Paulo: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (11). Bem, talvez eu saiba. Piedosamente reflete verdadeiros cristãos. John Stott afirma que: “A primeira marca de uma igreja verdadeira e operosa é o amor, a segunda o sofrimento. Uma é naturalmente consequência da outra” (12). Jesus experimentou, por amor, calúnias, pobreza, prisão e morte. Agora, Ele avisa Sua Igreja (como um todo) sobre o que vão passar. Segundo o verso 9, Jesus conhece nossa:
A – tribulação – palavra grega que significa: aflição, angústia e opressão. Talvez a sua situação atual se enquadre nesta categoria;
B – pobreza – contrariando a teologia da prosperidade, a única igreja que não foi reprovada em nada por Cristo, no livro de Apocalipse, foi Esmirna, que era pobre. Ao contrário, sua pobreza foi louvada por Cristo em comparado com a verdadeira riqueza. Claro que não advogo um pseudo-evangelho-marxista, mas a palavra pobreza aqui, no grego, refere-se a uma pobreza extrema, miséria (13). Apesar de Esmirna ser uma cidade “muito rica, uma das cidades mais sofisticadas da Ásia” (14), os cristãos que viviam ali eram pobres. Talvez a retidão nos negócios, evitando o lucro fácil e ilícito. Talvez “a perseguição contra os crentes, e a espoliação dos seus bens e o desemprego concorreram para esgotar os recursos financeiros da igreja de Esmirna” (15). O fato é que mesmo padecendo de pobreza foram elogiados como ricos, por Cristo. Isto posto, o contraste entre os bens materiais que perecem e a coroa da vida, dada aos fiéis (16) é revelado. A verdadeira riqueza é a vida eterna, que dinheiro nenhum compra e foi dada gratuitamente por Cristo, aos Seus que segundo Paulo, sendo pobres podem enriquecer a muitos; nada tendo, possuem tudo (17);
3 – blasfêmia/calúnia (ver nota 18) – Fora da Igreja, eram perseguidos pelos pagãos e idólatras do Império Romano e pelos judeus. “Dentro da Igreja havia os judaizantes que [...] aparentando serem cristãos [...] pregando aos gentios postulados da Lei de Moisés como indispensáveis para a salvação” [...] mas que negavam os verdadeiros fundamentos da fé revelada por Deus, mediante a obra redentora do Senhor Jesus Cristo (19). Assim como Jesus foi mal interpretado e caluniado, estes cristãos em Esmirna passaram também por isso. Jesus conhecia o problema deles. Ele conhece o seu problema também. Confie nEle.
Jesus venceu. Talvez se o texto apenas instruísse a ser fiel até a morte, pois a perseguição vai ser implacável, “seria fácil ser esmagado por uma mensagem dessas” (20). Mas no texto também há promessa, a coroa da vida, confirmada pela separação da segunda morte, destinada para Satanás e os incrédulos (21). Temos muitos problemas no dia a dia. Se formos sinceros seguidores de Cristo, parece que, os problemas se intensificam, o que geralmente ocorre.
Devemos então em primeiro lugar lembrar que Deus está no controle e que nenhum sofrimento chega a nós sem Sua permissão. Talvez sejamos postos a prova, mas sejamos também fiéis confiando no socorro e na soberania de Deus. Em segundo lugar, não devemos esquecer ou anular o padrão moral bíblico por causa de pressões, sejam internas ou externas. Este tem sido o erro de muitos cristãos professos nos dias atuais. Stott afirma que: “Nossa tendência é diluir o Evangelho e abaixar nossos padrões, a fim de não provocar oposição. Amamos o louvor de nossos semelhantes mais do que o louvor de Deus” (22). O caso não é buscar oposição ou desejá-la. Muito menos ser um mártir de “boutique”. Mas, buscar seguir a Deus como Ele ordena e, se alguém nos louvar, que seja Ele, dando-nos a coroa da vida. Em terceiro lugar, devemos lembrar que nada merecemos. A todos os fiéis, é prometido que: não sofrerão o dano da segunda morte (lago de fogo) e a coroa da vida (vida eterna com Ele). Não importa se morreremos em combate, pois, há uma grande promessa aos fiéis. Mas isso é por amor. Por conquista de Cristo. Deus não nos deve nada. Vida eterna não é um prêmio conquistado meritatoriamente pela nossa fidelidade. É um prêmio, dado pela fidelidade de Deus, por Sua graça e misericórdia, que alcança a Sua Igreja. Não devemos entender o “e” que aparece no fim do verso 10 como algo condicional. A chave da nossa obediência é o amor de Deus e a Deus. O amor é inimigo do temor. O amor de Deus diz: “dar-te-ei a coroa da vida”, portanto, diante desta promessa, nosso amor deve dizer: “sejamos fiéis”.
Finalizando, só para ilustrar esta última colocação, lembremos de Policarpo. Policarpo foi discípulo do apóstolo João, autor de Apocalipse, e foi bispo de Esmirna durante os anos 70 até 160 a.D., ou seja, há muita probabilidade de ter lido a carta de Jesus, escrita por seu discipulador, João. Quando perseguido e achado em sua casa, ofereceu um jantar aos seus algozes, e pediu para orar, o que levou cerca de duas horas. Quando preso, por causa da perseguição romana, foi lhe oferecida à liberdade, bastando a ele negar e amaldiçoar a Cristo. Suas célebres palavras foram: "Há oitenta e seis anos sirvo a Cristo e nenhum mal tenho recebido Dele. Como poderei negar Aquele a quem prestei culto e rejeitar o meu Salvador?". Assim, crendo que receberia a coroa da vida, pode ir à fogueira, pedindo para nem mesmo ser amarrado, pois era uma honra morrer por tão grande Nome, o de Jesus (23). Ele não morreu para receber a coroa. Ele recebeu a certeza da coroa quando se converteu, e por ela morreu. Glórias ao nome do Senhor Jesus, agora e sempre. Não tenha temor de nada!
Referências:
(1) Apocalipse 1.9;
(2) Idem 1.11-20;
(3) Panoramas do Apocalipse – Alcides Nogueira – Casa Editora Presbiteriana, p. 31-32;
(4) Nogueira, op. cit., p. 31 e O que Cristo Pensa da Igreja – John Stott – United Press, p. 28;
(5) Atos 19.10 e Nogueira, op. cit., p. 31 e Stott op. cit., p. 28;
(6) Nogueira, op. cit., p. 6;
(7) Stott, op. cit., p. 8;
(8) Comentário Bíblico do Professor – Laurence Richards – Vida, p. 1255;
(9) Apocalipse 1.12-13, 20;
(10) Mateus 28.20;
(11) 2Timóteo 3.12;
(12) Stott, op. cit., p. 28;
(13) Léxico do Novo Testamento Grego/Português – F. Wilbur Gingrich & Frederick W. Danker – Vida Nova, p. 182;
(14) Richards, op. cit., 1255;
(15) Nogueira, op. cit., p. 34;
(16) Apocalipse 2.10;
(17) 2Coríntios 6.10;
(18) diferente da maioria das versões bíblicas, utilizo a palavra βλασφημια com o sentido de calúnia ou difamação. A meu favor, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje – SBB e traduções da Vulgata latina. O significado da palavra, segundo Gingrich & Danker (op. cit., p. 43) varia de acordo com o sujeito que se aplica. Aos seres humanos, seu significado é revidar, difamar, caluniar, já com relação a seres divinos, é falar irreverentemente, blasfemar. Entre as 18 ocorrências da palavra no NT, 5 são em Apocalipse (Concordância do NT Grego Fiel, vol 1, p112. Destas, 4 se referem a Deus. Aqui, parece que os atingidos pela palavra são os irmãos de Esmirna. Deus seria atingido indiretamente, pelo levante contra os Seus. Logo, traduzo o texto assim: “(conheço) a calúnia que (aflige vocês), vinda dos que se dizem judeus, mas não são, pois são sinagoga de Satanás”;
(19) Nogueira, op. cit., p. 34-35;
(20) Richards, op. cit., 1255;
(21) Apocalipse 2.10-11;
(22) Stott, op. cit., p. 35;
(23) História do Cristianismo ao Alcance de Todos – Dr. Bruce Shelley– Vida Nova,História da Igreja Cristã – W.Walker – ASTE e O Cristianismo Através dos Séculos – Earle E.Cairns – Vida Nova.




Postado Por Dc. Alair Alcântara
Liberdade


 

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails